domingo, 30 de março de 2008

Palavras de um louco/ Marco Britto*réplica:*Direito de Resposta/ Edna Lopes

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Palavras de um louco

Marco Britto

Esqueçais minhas palavras,
amada!
Imploro-te!
Não lhes dê atenção,
e fingis que elas não existem,
que jamais existiram,
e que nunca passaram
de devaneios.

Ou então as considerais loucas,
insanas e dementes.
Pois é o que são, digo-lhe:
são palavras loucas e insanas,
Acredite-me!

Vós podeis pensar
no quanto estava eu
louco e embriagado
ao usar tais palavras.
Mas não as usei,
não as proferi,
Foram elas que arranharam
minha alma e
saltaram do peito.

Rebeldes e insensatas
é o que são!
Insurrectas palavras
a dar forma a sentimentos
que não lhe são seus,
onde já se viu?

Ficai, amada,
não se vá,
ouçais meu grito
desesperado!

Acreditais em mim
e considerais
todas as palavras
indignas e mentirosas
se esta verdade a pôr
distante do meu coração.

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O poeta baiano Marco Britto publicou este poema no Site Anjos de Prata em 2006. Encantou-me a dor quase palpável da paixão no poema! Ao reler, "incorporei" a musa e repliquei:

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Direito de Resposta

Discordo de ti amado, mas
Atenderei ao teu pedido:
Fingirei que não ouvi as palavras
De amor que foram ditas por ti.
Não mais lerei nas entrelinhas,
Nem acreditarei no que meus olhos
Captaram dos teus.
Não mais esperarei a carta que jamais escrevestes,
Confirmando tua paixão pela vida,
Por poesia, por metáforas
E por mim.


E, se queres, amado
Proibo-me de sonhar contigo!
Proibo-me de desejar ser tua,
Fantasiar o calor do teu corpo,
O afago nos cabelos,
O beijo desenhado em tua boca.

Dizei-me: o que achas que farei
Com a lembrança de teu sorriso?
Do teu olhar reconhecendo-me,
Acariciando minha pele?

Acaso pensas que só a ti
Visitam a embriaguês e a loucura?

Porém, não me culpes
Por teus desatinos, pois o meu
Já é de bom tamanho.

Peço-te, não me exijas o esquecimento.
Não me proponha a loucura de desistir
Do que não vivemos.
E não ouses negar
Que nossas almas são irmãs.

Queiras ou não,
O que sentimos
Já se eternizou
Em poesia.

Edna Lopes

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Obrigada, Poeta! o poema é de quem o lê e se encanta por ele. Beijo.

"A palavra é metade de quem escreve e metade de quem lê."
Luis Costa Lima, ensaista e professor, no filme documentário DRUMMOND, O POETA DAS SETE FACES.

EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 13/03/2008
Código do texto: T898714

sexta-feira, 28 de março de 2008

MUSA

Eliseu Visconti


Renoir

MUSA

Sonho.
Sonhando, sonho contigo.
Sonhando contigo, flutuo,
dou passos largos
entre nuvens de orgasmos
e felicidade.

Penso.
Pensando, penso em ti.
Pensando em ti, pairo,
flano entre gozos
e regozijo.

Sinto.
Sentindo, sinto você.
Sentindo você, vivo.
E vivendo, desperto.
Despertando, percebo
que tudo não passa
de sonhos com você...

Marco Britto

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sobre Beijos




Boca a espera
Úmida promessa.

Boca devorando vida
Beijo.

Sonhado
Desejado
Roubado
Beijo de namorado.

Caso minha boca
Exija-te, com sede
Conceda-me.
Lambuze-se
Com minha fome
De vida.



EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 24/08/2007
Código do texto: T622521
fotos:
http://amaralnascimento.com/blog/

sábado, 1 de março de 2008

VELHO, VELHO CHICO *









" Velho Chico vens de Minas


De onde o oculto do mistério se escondeu


Sei que o levas todo em ti Não me ensinas


E eu sou só,eu só,eu só,eu..."


(Caetano Veloso - O Ciúme)




Rio São Francisco


Velho rio que ainda


Acolhe generoso


Quem dele se aproxima





Caminho às margens


E percebo vidas


Toco nos coqueirais


E mergulho na lenda





Deslizo nas dunas,


Aceno aos ribeirinhos e


Imagino histórias.


Observo as lavadeiras


E relembro seus cantos.





Penso no peixe, nas frutas


E no arroz irrigado,


Subsistência do Homem


Que vive do rio e para o rio.





Cumprimento o barqueiro


E o velho pescador de olhar sofrido,


Com a lembrança


Da pujança do rio de outrora.





Sinto, reconheço


A tragédia anunciada


No assoreamento


Do rio que agoniza





Velho, velho Chico


Encanto, saudade e pranto


De quem te sonhou


Crescente e

Te reencontrou

Minguante.





Nas minhas últimas férias, visitei a foz do Rio São Francisco e entristeceu-me a desesperança dos ribeirinhos com a tragédia anunciada do rio agonizante. A eles minha solidariedade irrestrita.


Fotos por Décio Torres disponibilizadas no end http://picasaweb.google.com/ednalnascimento/VelhoVelhoChico



EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 14/02/2008 Código do texto: T859621
**Publicado também no site Anjos de Prata, para o Tema Livre.