quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

BAILADO**




Danço em volta de uma fogueira
Atraída pelas chamas,
Tal qual mariposa.
Transpiro,
Respiro,
Vibro no compasso das palmas
De guitarras ciganas.

Hipnotizo-me
Com o movimento de minha sombra
Que se alonga ou se encolhe,
À medida que me aproximo da luz.
Dentro de mim um sentimento ancestral
De pertencimento: sou deste lugar!
Um ser da noite que encontrou seus iguais.

A terra acaricia meus pés descalços,
O fogo aquece e encena também um bailado,
O vento despenteia meus cabelos e eriça meus pêlos
E, como por encanto, uma chuva fina cai,
Brindando o início da madrugada.

Danço para mim.
Danço para os deuses,
Agradecendo a amizade, o amor, a alegria.
Danço para celebrar a vida,
Nas sombras da noite de lua cheia.

(Publicado no livro A Poesia das Alagoas, lançado na III Bienal Alagoana do Livro em 21 de outubro de 2007)

** Este poema foi inspirado numa epígrafe do Poeta Marco Britto na sua MENSAGEM DO DIA. Falava de SOMBRAS e provocava: "um exercício..."
E como adoro engolir (boa ) corda...
Mar, obrigada.Nessa você é meu cúmplice!

EDNA LOPES

Publicado no Recanto das Letras em 30/10/2007
Código do texto: T716813

foto:www.rosevalverde.art.br

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Paixão tem Rima?*













Paixão tem rima,
rima com quê?
Rima só com teu nome,
ou rima com você?

Para saber se os versos são teus
preste atenção no que estou a dizer.
Se não escrevo teu nome, menina,
é para ninguém saber.


Paixão tem rima
e rima com você.

Rima com a doce menina
que de tão feminina
ao poeta fascina
e não só o alucina
de tanto prazer.

Paixão é fome
que seu nome
consome.

Marco Britto

* (Poema de estalo, sem direito a prévia revisão)

foto:http://www.flickr.com/photos/_solange_/159987908/

domingo, 25 de novembro de 2007

QUADRO









Um Homem e seu Cão
Passeiam na tarde;
Caminham lado a lado
Integrados à paisagem da cidade.

Passos sincronizados, elegantes,
Num clima da grande camaradagem,
Alegria e descontração.

Mãos firmes, corda retesada, olhar atento.
Volta e meia a voz do homem se sobrepõe
Suavemente conduzindo a coleira.

O olhar do cão é de incondicional
Amor humano
O olhar do Homem é de inconfundível
Amor canino.
Serão felizes até que a morte os separe...


EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 30/09/2007
Código do texto: T675387

foto:http://fotos.sapo.pt/amigosanimais


sexta-feira, 23 de novembro de 2007


MERGULHO ...*









“...Um dia, talvez, esteja naquela cadeira olhando o mar à distância, a vida distante.(...)Mas que ao olhar para dentro eu tenha muito que rever e contemplar.(...) Estarei olhando o mar, o mar interior e terei alegrias de nenhum passante compreenderá.
(Affonso Romano de Sant’Anna - Velho Olhando o Mar)


De presente, um azul escandaloso,
Uma brisa suave e o frescor de tuas
Águas límpidas.

Tocas meu corpo e entrego-me com

Voluptuosidade de fêmea no cio e
Doçura de menina vivendo a primeira
Paixão.
Lava-me a alma, inundando minha manhã
De contenteza, alimentando-me com teu

Cheiro e teu sal.

Fico feliz só em poder te olhar e mais ainda

Com o privilégio de estar em ti.
Sou, irremediavelmente, prisioneira dos teus encantos.
EDNA LOPES

Publicado no Recanto das Letras em 14/11/2007
Código do texto: T737465

Foto by Ana Lúcia Cruz, em frente onde moro.

sábado, 13 de outubro de 2007

Eis quadros










Vejo retratos, ouço retratos...
Retratos falados, escritos
aos gritos.

Vejo quadros espalhados...
Na vida, nas paredes,
Retratos gerados em cima de redes...

Esquadrinho quadros pintados à mão.
Retratos da vida
que retratam aflição.

Percebo os que pintam,
os que usam o borrão,
sujando a vida com o peso da mão.

Ouço retratos
daqueles que partem,
da vida que levam - antes que enfartem!

Retrato - com esquadro -
um quadro distinto,
de nada extinto,

da vida que sinto
de modo sucinto,
que pinto e repinto.

Marco Britto

*foto da web



.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Entranhas*





"você é meu caminho, meu ninho, meu vício desde o início..." Caetano Veloso











Ontem meu amado

estava na chuva que

encharcou-me o corpo

e no andar do pescador

que recolhia sua rede.




Vi também o sorriso

do meu amado na cantoria

do violeiro e na menina-dançarina

do folguedo de rua.





Meu amado habita

minha realidade e minha fantasia

e uma a outra alimenta.





Está no meu sonho,

na ordem do dia e

nas entranhas da minha poesia.





*inspirado no poema CANTO À AMADA, de Solano Trindade
EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 08/08/2007
Código do texto: T598768

a foto
http://liquidus.wordpress.com/category/today/

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

De leitura e vida


"Amor, meu grande amor,

Só dure o tempo que mereça(...)

E quando eu te encontrar

Meu grande amor,

me reconheça..."

Angela RoRo/ Ana Terra

Li

Nas entrelinhas de

Nossas vidas

Tudo aquilo que é possível não ser

E somos

Tudo o que é possível dizer

E não dissemos

Tudo o que poderíamos viver

E não vivemos.

Faltou amor?

Não, nada disso.

Faltou a iniciativa do gesto,

Sobrou medo,

Excesso de zelo,

Cuidados.


Faltou paixão?

Não, nada disso.

Sobrou a responsabilidade

Do que somos,

Do que construímos

E a verdade

Incontestável,

De tudo que sonhamos e aprendemos

Um com o outro.


EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 03/09/2007Código do texto: T635991

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Eu, às vezes, me distancio do meu mundo. Preciso vê-lo por outros ângulos.
- Mar -

sábado, 25 de agosto de 2007

TEMPO DE AUSÊNCIA*

by www.rosaleanor.blogspot.com


* " ... e por falar em saudade..."


Amado, o tempo em que te ausentas de mim,
Minha vida fica em suspenso,
Meu caminhar torna-se lento e
Minha mão pesada.
Embriago-me na fumaça dos bares,
No burburinho das palavras ditas
Para não fazer sentido,
Na ciranda de olhares que não enxergam
Além das aparências.
Te ausentas de mim,
Meu coração encolhe e meu brilho apaga.
Te ausentas de mim e definho a olhos vistos.
Vem, espero ansiosa teu toque
Para sentir, novamente
Acesa minha chama de vida.

EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 06/08/2007Código do texto: T594532

domingo, 19 de agosto de 2007

viagem

www.llmeussonhosll.blogger.com.br/sonhos.jpg


Viagem

No frescor da madrugada
Meu sonho te visitou
Sentiu o cheiro dos teus cabelos,
Tal qual borboleta pousou em teus lábios
Beijou teus olhos.
Brincou com teu sorriso de menino
Afagou tua pele
Aninhou-se em teu peito e
Dormiu.
Teu abraço: porta aberta
da minha alegria.
Publicado no Recanto das Letras em 19/08/2007Código do texto: T614122

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Chuvas de Verão

*http://100querer.blogspot.com - luci100querer

Assim como conservo as lembranças das chuvas de verão, assim são as lembranças que guardo de ti. Céu claro, pios de pássaros dançando em galhos de amoreiras, uma brisa suave agitando flores d’açucenas... Num instante seguinte calam-se os pássaros, o céu escurece, cessa o gangorrear de alvas pétalas... Pingos grossos tamborilam em vidros de janelas, agitam-se, agigantam-se e repicam nos telhados de zinco... Chove forte e torrencial. Trovejam gemidos, explodem espasmos. Depois voltam as gotas de chuvisco fino e os risos à meia-voz. 0uve-se o farfalhar dos ramos das mangueiras e eu ouço o leve sussurrar do seu alento sobre o meu peito. A tarde se finda, a tempestade vai embora...Por fim, a vida retorna à sua branda alegria.

sábado, 11 de agosto de 2007

De olhos fechados

*nu de Modigliani


Imagino teu olhar
Queimando minha pele.
A tua boca que,
Mesmo sem dizer nada,
Promete-me o paraíso.
Imagino a respiração,
Os cheiros,
Os sabores ao
Longo da geografia
Do teu corpo.
Imagino murmúrios,
Delicadezas,
Palavras que diremos um ao outro.
Transformo-me num rio caudaloso e
Devagar
Mergulho na fantasia
De ser também
A protagonista
De tua fantasia.

Edna Lopes

- Publicado no Recanto das Letras em 23/07/2007 e na MENSAGEM DO DIA do poeta Marco Britto em 27/07/2007.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A palavra dita
dói menos que a não dita.
A maldita da palavra não dita
dói mais.


E maldita seja a palavra
que nada diz,
que nada traz.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

No meio da noite


No meio da noite
e no princípio do sonho
eu perdi você.

Vaguei então.
Percorri o universo
de uma ponta a outra.
Passei por luas e estrelas,
atravessei mundos distantes...

Na imensidão da noite,
e no silêncio do quarto
veio o vento da solidão.

O vento trouxe o inverno
e o inverno arrebanhou o frio.
Vieram juntos a galope
e congelaram meu coração.

No meio do sonho
e no princípio
da noite sem fim
eu perdi você.

E apagaram-se as luzes
do quarto e das estrelas.
E a imensidão da noite
tomou conta de mim.

domingo, 5 de agosto de 2007

Manhã de um sábado melancólico. Sons antigos de água correndo por entre pedras milenares.
Gritos...Sorrisos chapinhando pés em rios de águas escuras.
Cantos de liberdade galgando serras cobertas por lendas e matas de bichos encantados.
Ao longe, na fronteiriça linha que marca as lembranças e o esquecimento, imagens de vigorosos braços rodando lustrosas bateias e lustrosas coxas negras batendo roupas nas brancas pedras milenares...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Por mais distante que estejas agora, permanecem junto a mim o cheiro do teu corpo,
o brilho do teu olhar, o morno ar de tua boca, o som cristalino do teu riso.
Quanto mais distantes se tornem aqueles dias, tanto mais perto de mim
estará a falta que sinto de ti...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Céu Deserto

Os sonhos são pássaros soltos
que em bando algazarram
o coração de quem deseja.

Cada desejo é um pássaro
que se debate querendo voar
para o céu que vislumbra.

O céu é o infinito,
a torre mais alta dos castelos
de desejos que se erguem dentro do peito
do homem.

O coração de um homem
é feito de sonhos, de pássaros,
e de desejos.

Cada homem tem mil corações,
cada coração tem mil desejos,
cada desejo tem mil sonhos
e cada sonho tem um bando de pássaros.

Mas só um coração sobrevive.
Aquele que alimenta os pássaros
de sonhos e de desejos.

Os outros corações
pousarão seus pássaros
e seus desejos.
E sonharão eternamente
com um céu deserto.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Primavera


Em breve chegará a primavera e eu não poderei vê-la.
Não verei os botões das rosas abrirem-se em flor,
mas sentirei seus perfumes exalarem no ar.

Em breve chegará a primavera
e eu não poderei avistar
a dança de acasalamento dos pássaros.
Mas certamente ouvirei com êxtase,
os seus trinados.

Em breve terá chegado a primavera.
E não avistarei o sol se pôr no horizonte.
Mas sentirei o seu calor
fugindo da minha pele no final de tarde.

Em breve terá chegado a minha hora
E só aí eu verei.
Verei o anjo da morte
abraçando a alma de um cego...

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Fascinação

Tua voz que me fascina,
tua voz,
pura clara
água cristalina.

Tua boca semi-aberta,
tua língua,quente úmida
a deixar-me sempre alerta.

Teus lábios que me atrai,
teus lábios,
sopro cálido
força minha que esvai.

Teus dedos que me extasia,
teus dedos,
leves brandos
sugerindo fantasia.

Teus olhos que me seduz,
teus olhos,
brilho diamante
pedra que reluz.

Teu corpo que me alucina,
teu corpo,
curvas delicadas,
calor que desatina.

Teus pés a me encantar,
teus pés,
suaves, ternos
minh'alma a amolgar.

Tua voz, tua boca,
teus lábios, tua língua,
teu corpo, teus olhos,
teus pés.
Todo teu.

Olho para você

Olho para você
como quem olha
para um céu
de lua, estrelas e sóis.

Olho para seus olhos
como quem mira
um vasto e profundo oceano.

Olho como se olhasse
para o infinito.
E me debato com
universos desconhecidos.

Teus olhos falam

Teus olhos falam
o que tua boca
nega a dizer.

É desta forma que amas?

Diz-me pela tua boca
o que teus olhos
afirmam!

Fala-me do Amor!

Teus olhos negam
o que tua boca
em trejeitos
afirma.

Porque teus olhos
falam
e tua boca não?

Dá-me tua boca
e teus olhos.
E não me negues
o que teus olhos afirmam!

Timidez


Não sei como te dizer...

A palavra - na garganta - dá-me nó.
Tentei mesmo te esquecer,
mas até eu, de mim... Tenho dó.

Sinto falta do teu colo,
do teu corpo junto ao meu,
Sinto falta do que nunca tive:
do meu corpo junto ao teu.

Traço linhas, faço versos,
acredito que me lês,
Escrevo cartas e poesias,
Mando-te flores em buquês.

Mas quando passas tão altiva,
treme meu corpo, meu coração
já não penso, me desfaço
morro mesmo de aflição!

Não sei mesmo como te dizer:
- Te amo!

Um Sonho


Alguma vez eu disse que havia sonhado com você?
Não?
Devo ter dito...
Ou então pensei tão alto que você, por certo, ouviu...
Ou será que nunca lhe havia dito que sonhara contigo?
Pois então....
Sonhei com você!
E foi um belo de um sonho que sonhei!
Belo e gostoso, suave e doce.
Tão belo quanto teu rosto,
tão suave quanto tua pele,
tão doce quanto tua voz.
E gostoso!
Havia prazer neste sonho.
Tanto prazer quanto possas imaginar.
Mas se procuras saber
quais os tipos de prazer
que posso ter sonhado
contigo....
Terás que me dizer
o que querereis ouvir!

domingo, 10 de junho de 2007

Ronda


Há um pássaro que ronda
meus sonhos.
E com suas longas
asas escreve tristonho
seu nome
em meu peito.



Em noites longas
o pássaro vaga
em largas ondas
trazendo no dorso
imagens que bailam
em meu leito.



Seu vôo lento,
de beleza deslumbrante,
é sopro de alento
ou triste lamento
de desejo
distante.



Há um pássaro que sonda
meus sonhos.
E com sua longa
asa afaga
as mortas horas
da minha madrugada.


Por fim voa o pássaro, triste,
levando no dorso
embora,
o sonho que a tudo assiste
sem ver a morte
da hora.

sábado, 9 de junho de 2007

Canção de Despedida


Os olhos que um dia
descobriram um céu
de lua, estrelas e sóis
perscrutam hoje
novos horizontes.

Os olhos que um dia
miraram um vasto
e profundo oceano
partiram em busca de
novos mares
e baías mais acolhedoras.

Os olhos que um dia
buscaram o infinito
debateram-se com
universos áridos e inférteis.

Os sonhos que um dia
foram semeados
no sulco de um coração estéril
tornaram-se frutos pecos
e insípidos.

O encanto secou
como flores sem orvalho.
Caídos no chão,
gota a gota,
despencaram
sóis, estrelas, lua
e um vasto oceano
de paixão.

Coração bandoleiro partiu.
Da aljava, pendentes,
seguiram sonhos,
magias e fantasias.

Ave, Carraspana!


“Porre: será que quem viu um,
viu todos? Pura filosofia...”
- Edna Lopes -

Lá vai um homem às apalpadelas,
enquanto anda, canta e mente.
Vem sorrindo para as janelas,
um sorriso bem contente.

Vem andando aos trambolhões,
pedindo licença a gato e cachorro.
E olhando para seus botões,
vê das calças nascer um jorro.

Encostado na esquina,
estanca o ébrio para se guiar,
não sabe se vai pra a jogatina
ou se despenca para o bilhar.

Tropeçando na calçada
acelera o passo e cai,
e com o riso da molecada
levanta, sacode a poeira e sai.

Vai embora pra Pasárgada,
lá é amigo do rei.
Lá se bebe de talagada
sem temer homem da lei.

O pinguço é artista
quando se lava na aguardente.
Poesias? Tem uma lista,
que vai recitando de presente.

O duro é na segunda-feira,
quando os dias perdem a cor,
pois se acaba a bebedeira,
do sisudo professor.

Cantiga de Meninos e Meninas



Brincadeiras de finca-pé, chicotinho-queimado,
brincadeiras de marido-e-mulher, “quero ser seu namorado”.
Nas festas de São João, com estrelas cobrindo o céu,
meninas curvam a cabeça, meninos tiram o chapéu.

Em noites de lua cheia,
e brincadeiras no meio da rua,
enquanto um ou outro vagueia,
alguém namora a lua.

As meninas, mais assanhadas,
juntam-se a conspirar,
os meninos aparvalhados,
nem imaginam com quem vão namorar.

Acreditam que escolhem
a moça do seu coração,
tão ingênuos, não sabem
que são vitimas duma conspiração.