quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Chuvas de Verão

*http://100querer.blogspot.com - luci100querer

Assim como conservo as lembranças das chuvas de verão, assim são as lembranças que guardo de ti. Céu claro, pios de pássaros dançando em galhos de amoreiras, uma brisa suave agitando flores d’açucenas... Num instante seguinte calam-se os pássaros, o céu escurece, cessa o gangorrear de alvas pétalas... Pingos grossos tamborilam em vidros de janelas, agitam-se, agigantam-se e repicam nos telhados de zinco... Chove forte e torrencial. Trovejam gemidos, explodem espasmos. Depois voltam as gotas de chuvisco fino e os risos à meia-voz. 0uve-se o farfalhar dos ramos das mangueiras e eu ouço o leve sussurrar do seu alento sobre o meu peito. A tarde se finda, a tempestade vai embora...Por fim, a vida retorna à sua branda alegria.

sábado, 11 de agosto de 2007

De olhos fechados

*nu de Modigliani


Imagino teu olhar
Queimando minha pele.
A tua boca que,
Mesmo sem dizer nada,
Promete-me o paraíso.
Imagino a respiração,
Os cheiros,
Os sabores ao
Longo da geografia
Do teu corpo.
Imagino murmúrios,
Delicadezas,
Palavras que diremos um ao outro.
Transformo-me num rio caudaloso e
Devagar
Mergulho na fantasia
De ser também
A protagonista
De tua fantasia.

Edna Lopes

- Publicado no Recanto das Letras em 23/07/2007 e na MENSAGEM DO DIA do poeta Marco Britto em 27/07/2007.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A palavra dita
dói menos que a não dita.
A maldita da palavra não dita
dói mais.


E maldita seja a palavra
que nada diz,
que nada traz.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

No meio da noite


No meio da noite
e no princípio do sonho
eu perdi você.

Vaguei então.
Percorri o universo
de uma ponta a outra.
Passei por luas e estrelas,
atravessei mundos distantes...

Na imensidão da noite,
e no silêncio do quarto
veio o vento da solidão.

O vento trouxe o inverno
e o inverno arrebanhou o frio.
Vieram juntos a galope
e congelaram meu coração.

No meio do sonho
e no princípio
da noite sem fim
eu perdi você.

E apagaram-se as luzes
do quarto e das estrelas.
E a imensidão da noite
tomou conta de mim.

domingo, 5 de agosto de 2007

Manhã de um sábado melancólico. Sons antigos de água correndo por entre pedras milenares.
Gritos...Sorrisos chapinhando pés em rios de águas escuras.
Cantos de liberdade galgando serras cobertas por lendas e matas de bichos encantados.
Ao longe, na fronteiriça linha que marca as lembranças e o esquecimento, imagens de vigorosos braços rodando lustrosas bateias e lustrosas coxas negras batendo roupas nas brancas pedras milenares...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Por mais distante que estejas agora, permanecem junto a mim o cheiro do teu corpo,
o brilho do teu olhar, o morno ar de tua boca, o som cristalino do teu riso.
Quanto mais distantes se tornem aqueles dias, tanto mais perto de mim
estará a falta que sinto de ti...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Céu Deserto

Os sonhos são pássaros soltos
que em bando algazarram
o coração de quem deseja.

Cada desejo é um pássaro
que se debate querendo voar
para o céu que vislumbra.

O céu é o infinito,
a torre mais alta dos castelos
de desejos que se erguem dentro do peito
do homem.

O coração de um homem
é feito de sonhos, de pássaros,
e de desejos.

Cada homem tem mil corações,
cada coração tem mil desejos,
cada desejo tem mil sonhos
e cada sonho tem um bando de pássaros.

Mas só um coração sobrevive.
Aquele que alimenta os pássaros
de sonhos e de desejos.

Os outros corações
pousarão seus pássaros
e seus desejos.
E sonharão eternamente
com um céu deserto.